A
Idade Média sofre uma estigmatização moderna, principalmente pelo movimento
iluminista e renascentista, pois os mesmos desintegram a perspectiva e as
instituições da Idade Média, essa mudança radical na civilização europeia
afetou todos os níveis da sociedade. Em
nível religioso e cultural, a unidade do mundo cristão fragmentou-se com a
ascensão do protestantismo, o clero perde o monopólio do ensino, e a orientação
sobrenatural, da lugar a uma perspectiva secular. Na literatura e nas artes, a
teologia “rainha” do conhecimento, cedeu sua coroa à ciência, com a razão
afirmando sua independência. Essa ruptura iniciado pela Renascença e com
continuidade no Iluminismo, levaram a Idade Média a ser alvo de preconceito,
julgada e taxada como a “Idade das Trevas” “um tempo oco, caracterizado pela
ausência da razão e ausência do gosto” (LE
GOFF, 2005, p. 59).
É de
conhecimento que a Idade Média tem em sua essência influência da Igreja
Católica, propagadora da ideologia Medieval, o fator por vezes ignorado dentro desse
período longo de duração - a qual Le Goff vai denominar Uma Longa Idade Média desde o século V ao século XVIII,- envolvem
muitos pormenores que foram “esquecidos”, legando a sociedade da época estigmas
de uma população desprovida de razão, e um atraso a humanidade, ausente de
cultura, sendo o papel da renascença reviver a grandeza cultural da Antiguidade.
Não
se pode negar a forte influência do pensamento religioso, que trás consigo uma
mentalidade ímpar, regida pelo medo, crenças, marcada também pela barbárie
guerra justificadas como santas, entrando em contraste com um pensamento
moderno, e percursor do humanismo. . Todavia a Idade Média construiu a Idade
Moderna é a infância da mesma. “Eis
porque falei de uma longa Idade Média que em certos aspectos de nossa
civilização perdura ainda e, às vezes, desabrocha bem depois das datas
oficiais” (LE GOFF, 2005, p. 66). O movimento positivista da historiografia
também nada ajudou para desprender a Idade Média de tal taxação, baseando-se
apenas em documentos oficiais no fazer histórico, aspectos culturais, sociais,
ideológicos, filosóficos, esquecidos, voltando-se apenas para uma
historiografia politica. Já o movimento dos Annales - Do qual Le Goff é um dos grandes representantes da Terceira
Geração- interessando-se por tudo aquilo que é humano, vão em busca de
preencher as lacunas da história.
Assim a Idade Média vai redescobrindo-se em
uma ampla variedade de característica, quebra-se esse conceito de “era
obscura”, busca-se refazer e redefinir o conceito de Idade Média, tentando
liberta-la dos preconceitos. Pois segundo Jacques Le Goff (, 1980, p. 12.), foi
na Idade Média que surgiu a sociedade moderna, que criou “a cidade, a nação, o
Estado, a universidade, o moinho, a máquina, a hora e o relógio, o livro, o
garfo, o vestuário, a pessoa, a consciência e, finalmente, a revolução”.
A Idade
Média filha da Idade Antiga, berço do Renascentismo e a criança do que foi a
Idade Moderna, vital para a construção de uma nova era, em que a razão
predomina. Felizmente, este conceito de que nosso mundo atual é fruto do
pensamento clássico greco-romano vem sendo de desmistificado. Na verdade, não
nos damos conta que somos filhos do pensamento medieval, no qual os conceitos
clássicos passaram pelo filtro da doutrina cristã:
[...] falamos idiomas surgidos naquela época, temos
ou pretendemos ter governos representativos, consideramos indispensáveis instituições
como julgamento por júri e habeas corpus,
alcançamos maior eficiência com o sistema bancário, a contabilidade e o relógio
mecânico, cuidamos do corpo com hospitais e óculos, alimentamos melhor o
espírito graças à notação musical, à imprensa e às universidades, embelezamos a
vida com a música polifônica e os romances.( FRANCO Jr.,
Hilário. Op. cit. p. 179.)
Portanto ao voltar
os olhos a Idade Média, deve fazê-lo sem preconceitos ou julgamentos de nossa
época, resgatar conceitos, pensamentos, a mentalidade, a cultura, os ofícios, a
sociedade sempre com o cuidado de não cair no anacronismo.
AUTORIA: Alicia Vanity.
Fonte principal : Uma Longa Idade Média por Jacques Le Goff
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